sexta-feira, 22 de março de 2013

Meu livro - Cap. 1

  Não me lembro de como tudo começou. Eu era muito nova na época. Tudo que consigo me lembrar é dos meus pais correndo apressados em direção a uma grande nave.
   Tinha só seis anos na época e não conseguia compreender como aquele grande pedaço de lata, aço e metal, poderia ser a casa de alguém, mas tinha medo de fazer muitas perguntas.
    Papai parecia tão preocupado e assustado, mamãe também apesar dela sempre sorrir em minha direção, sabia que tinha algo de muito errado naquilo tudo.
     Homens fardados guiavam as pessoas até as naves, mas eram tantas que elas rapidamente se enchiam e eles tinham que guiá-las para outras naves.
   Tudo é muito borrado em minhas lembranças, mas lembro de todos usarem máscaras de oxigênio, disto eu sabia o motivo: o ar se tornava mais poluído e raro a cada segundo que se passava.
      Agarrei minha boneca de pano com medo de perdê-la naquela multidão.
    Papai aproximou-se de um homem que anotava o nome das pessoas em um computador de mão e ele perguntou nossos nomes.
     "Hunterfoxs. Jonas, Emanuele e a pequena Raquel" Disse papai olhando para mim e mamãe que segurava-me nos braços.
      Ele entregou ao homem nossos cartões de identificação. 
      Eu era Raquel naquela época, não era um número, não era a paciente 316.
      O homem rapidamente usou nossos cartões em seu computador para ter certeza de quem éramos.
    Logo depois fomos guiados a outra sala, nesta havia famílias arrumando e separando suas coisas. Não se podia levar muito, apenas o suficiente e algumas pessoas precisavam deixar para trás algumas de suas malas.
       Agarrei minha boneca com medo que tivesse que deixá-la para trás.
     Mamãe colocou o máximo que podia em duas malas, não era muito, mas era melhor que nada.
   "Acho que teremos que deixar alguns de seus brinquedos para trás" Disse mamãe olhando em minha direção.
    Sempre achei mamãe muito bonita, com seus cabelos e olhos castanhos. Ela tinha um rosto em formato de coração e o nariz arrebitado. 
      Seu cabelo era seu maior orgulho, longo com as pontas levemente cacheadas e sempre muito bem penteado, ela nunca tinha se permitido parecer com os cabelos despenteados. Acho que aquela era a primeira vez que vi seus cabelos desalinhados.
   Papai era tão bonito quanto mamãe, com seu cabelo castanho e seus olhos verdes. Olhando bem acho que sou bastante parecida com minha mãe, mas meus olhos são idênticos aos do meu pai.
   Papai sempre foi muito sorridente e naquele dia  ele estava bastante sério e preocupado.
   Acho que era por causa do cabelo desarrumado da minha mãe e o olhar preocupado do meu pai que eu tinha notado que algo estava muito errado naquele dia.
     "Tudo bem. Posso ficar com a Bia?" disse mostrando a boneca e dando de ombros em relação aos outros brinquedos.
       "Pode querida" 
       De repente uma voz no alto-falante disse que deveríamos seguir em direção a sala de desinfecção.
      Eu não gostava muito dessa parte, a sensação era de que haviam milhares de formigas andando sobre minha pele, mas sabia que era necessária.
      Finalmente conseguimos entrar na nave e papai respirou mais aliviado. 
      Nossa nova casa consistia em dois pequenos quartos, um banheiro e uma copa. A casa no espaço era simples, mas ao menos o ar era puro e podíamos respirar sem máscaras.
      Olhei pela a janela do meu quarto vendo o planeta Terra lá em baixo sem saber que se passariam doze anos até que eu volta-se para casa.